Terço pelos Filhos
Em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. Amém
CREDO
PAI NOSSO
3 AVE- MARIA
NAS CONTAS GRANDES
Quero de joelhos ver meus filhos de pé!
Deus me sustenta e aumenta a minha fé.
NAS CONTAS PEQUENAS;
Deus mantenha meus filhos de pé!
(10x)
segunda-feira, 3 de abril de 2017
terça-feira, 28 de março de 2017
AMOR BREVE
Francisco Miguel de Moura
Sou nem rio nem terra
fiz uma ponte móvel
amargando a incerteza
da tua passagem
dou-te
Sou nem rio nem terra
fiz uma ponte móvel
amargando a incerteza
da tua passagem
dou-te
À ÚLTIMA HORA
Francisco Miguel de
Moura
para
Maria Mécia Morais A. Moua
Grande mulher, alívio
em minha dor!
Afugentava “amigos”
tão fingidos
Que me indicavam cantos
escondidos...
Infelizes! Bem logo
eles se vão...
Um dia, sim, como estou
indo agora,
Mas embalado na canção
do amor
Que ela cicia em meu
ouvido, embora
Diante dum palco de
contradição.
O tempo vai findando a
grande lida,
E a gente se cansou
nessa subida...
E ainda ter a morte
como escolhos!?
Mas me conformo, é
hora da partida,
Banhado em pranto e
d’alma recolhida,
Enquanto meu amor
beijar-me os olhos.
_________________________
*Francisco Miguel de
Moura, poeta brasileiro,mora em Teresina, PI, e-mail:
franciscomigueldemoura@gmail.com
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
AS FUNÇOES DO BANHEIRO
Francisco Miguel de Moura*
Escritor, membro da Academia
Piauiense de Letras
Há muitas funções para o banheiro. A primeira é a do banho como o nome indica, mas não a mais importante, porque há pessoas que passam dias sem fazer este acerto de conta com a limpeza do corpo. O normal seria fazê-lo uma vez por dia. No Brasil é assim. Na Europa é apenas uma vez por semana, dizem. A segunda, que engloba também a terceira, é fazer necessidades fisiológicas – expressão muito vaga, pois nossas necessidades fisiológicas são muitas. Sem meias-palavras, essas necessidade fisiológicas se referem a mijar e fazer cocô. E são para estas que mais recorremos ao banheiro. Daí porque o leitor já deve ter ouvido, só em nossa língua, outros sinônimos mais usados para a palavra banheiro: privada, latrina, reservado, sentina, sanitário, etc. Mas há uma função mais nobre, no caso a quarta que foi comentada numa crônica do escritor Rubem Alves, do livro “Pimentas”, editora Planeta, São Paulo, 2012. É a da leitura. O banheiro é um lugar muito próprio para leitura de vários tipos: literatura, humor, poesia, conhecimentos gerais... E até romances. Eu acabo de ler o romance "Onde vais, Isabel”, de Maria Helena Ventura, de quase 300 páginas, boa parte da sua leitura feita no banheiro - o local mais fresquinho da casa e mais silencioso. Sem mentiras. Dessa autora aprendi que o D. Dinis, o trovador, 6º rei de Portugal, casado com D. Isabel, santificada pelo Papa da época, foi quem decretou o dialeto português oficial em Portugal, dialeto ainda ligado ao galego, ao espanhol e outros falares locais. Aprendi também que D. Isabel, quando saiu do reino de Aragão para desposar D. Dinis, levava um grande tesouro consigo - um segredo - até chegar ao seu destino e entregá-lo ao rei.
E então, para que o nome “banheiro”, se às vezes nem chuveiro o tal reservado possui? Por que não o nome de privada? Mas, não há meio, a gente está apertado na rua, entra numa loja ou repartição, e pergunta: - Aí tem um banheiro? Ou onde fica o banheiro? Dá licença? E vai lá, na privada. Mesmo porque não há privadas públicas e quando as há são insuportáveis, não têm a menor conservação, a gente pode até adoecer servindo-se delas. Aliás, um dia desses fui postar umas cartas na agência central dos Correios e tive necessidade de urinar – essa é uma necessidade que ocorre sempre, visto que o calor tropical exige que se beba muita água. A funcionária me disse que não havia privada para os clientes, somente um banheiro reservado aos funcionários. Depois que reclamei que era de lei toda repartição que atende ao público ter um banheiro para quando alguém precisasse, ela disse que me levaria (e levou) ao dos funcionários, como se fosse um favor e não uma obrigação legal.
Há uns dois anos, eu vivia numa casa grande, mas troquei por um apartamento, condizente com a vida moderna, quando não se pode pagar mais do que um empregado doméstico, quase sempre uma cozinheira que também lave a roupa. Mas, na casa, mesmo mais ou menos ampla, sempre achei interessante ler no banheiro. Ali, ninguém era perturbado, o que não me surgiu foi a idéia de fazer uma bibliotequinha dentro. E aqui, no apartamento, propus seriamente a biblioteca. Depois da instalação de um ventilador, iniciativa da mulher, em cada banheiro, minha proposta tinha muito a ver. Ela riu como que aprovando. Não sei se minha proposta vai ser executada. No banheiro, eu posso ler meus poetas Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Castro Alves e até Camões, quem sabe, “Os Lusíadas”. Por falar nesse imenso poema que fez a nossa língua firmar-se verdadeiramente como língua de civilização, podemos dizer que ele traz uma sabedoria imensa em suas páginas, e só no silêncio do banheiro é que poderíamos interpretá-lo em profundidade. No banheiro, nada deve ter a nos atormentar: rádio, celular e de outras maquininhas de mão cujos nomes não sei. Vou dizer apenas uma, como já ouvi: “ipade”. Mas é escrito “ipode”. E pode? No banheiro, não. Contracultura. Descartável. O que é salvo num segundo, no seguinte já é deletado... Cultura não se descarta: conserva, cultua. E a gente pode ficar tranqüilo que guardará por muito tempo, incorporado, o que leu, sentiu e sonhou para própria vida. Sim, porque no banheiro se pode até sonhar com emprego, namorada, divulgação de algo interessante e de interesse para a riqueza cultural da pátria. Há melhor sabedoria do que ter aprendido a viver bem? Pela cultura se aprende a viver bem. Não pelos livros de auto-ajuda, mas se possível por todos os livros de alta ajuda: romances, contos, novelas, história do país e do mundo, etc. O exemplo da leitura, no banheiro, deve ser repassado às crianças, lugar principal para começar a educação delas: Não jogar papel servido no chão (pra isto, lá deve ter um cesto), dar descarga depois de servir-se, e, enquanto se serve, ler toda a boa literatura infantil, de Monteiro Lobato a Cecília Meireles, chegando, certamente, até os mais novos escritores – que são muitos.
Daqui a pouco, como sugeriu humoristicamente Rubem Alves, o papel higiênico deve ser todo ele impresso com pensamentos dos melhores pensadores e poetas, de Sócrates a Jesus Cristo, de Neruda a Hermann Hesse, de Adélia Prado a Mário Quintana e Manoel de Barros. Do último, ele citou um verso bem a propósito deste tema e crônica, com o qual quero terminar: “Também as latrinas desprezadas que só servem para ter grilos dentro – elas podem um dia milagrar violetas”.
Escritor, membro da Academia
Piauiense de Letras
Há muitas funções para o banheiro. A primeira é a do banho como o nome indica, mas não a mais importante, porque há pessoas que passam dias sem fazer este acerto de conta com a limpeza do corpo. O normal seria fazê-lo uma vez por dia. No Brasil é assim. Na Europa é apenas uma vez por semana, dizem. A segunda, que engloba também a terceira, é fazer necessidades fisiológicas – expressão muito vaga, pois nossas necessidades fisiológicas são muitas. Sem meias-palavras, essas necessidade fisiológicas se referem a mijar e fazer cocô. E são para estas que mais recorremos ao banheiro. Daí porque o leitor já deve ter ouvido, só em nossa língua, outros sinônimos mais usados para a palavra banheiro: privada, latrina, reservado, sentina, sanitário, etc. Mas há uma função mais nobre, no caso a quarta que foi comentada numa crônica do escritor Rubem Alves, do livro “Pimentas”, editora Planeta, São Paulo, 2012. É a da leitura. O banheiro é um lugar muito próprio para leitura de vários tipos: literatura, humor, poesia, conhecimentos gerais... E até romances. Eu acabo de ler o romance "Onde vais, Isabel”, de Maria Helena Ventura, de quase 300 páginas, boa parte da sua leitura feita no banheiro - o local mais fresquinho da casa e mais silencioso. Sem mentiras. Dessa autora aprendi que o D. Dinis, o trovador, 6º rei de Portugal, casado com D. Isabel, santificada pelo Papa da época, foi quem decretou o dialeto português oficial em Portugal, dialeto ainda ligado ao galego, ao espanhol e outros falares locais. Aprendi também que D. Isabel, quando saiu do reino de Aragão para desposar D. Dinis, levava um grande tesouro consigo - um segredo - até chegar ao seu destino e entregá-lo ao rei.
E então, para que o nome “banheiro”, se às vezes nem chuveiro o tal reservado possui? Por que não o nome de privada? Mas, não há meio, a gente está apertado na rua, entra numa loja ou repartição, e pergunta: - Aí tem um banheiro? Ou onde fica o banheiro? Dá licença? E vai lá, na privada. Mesmo porque não há privadas públicas e quando as há são insuportáveis, não têm a menor conservação, a gente pode até adoecer servindo-se delas. Aliás, um dia desses fui postar umas cartas na agência central dos Correios e tive necessidade de urinar – essa é uma necessidade que ocorre sempre, visto que o calor tropical exige que se beba muita água. A funcionária me disse que não havia privada para os clientes, somente um banheiro reservado aos funcionários. Depois que reclamei que era de lei toda repartição que atende ao público ter um banheiro para quando alguém precisasse, ela disse que me levaria (e levou) ao dos funcionários, como se fosse um favor e não uma obrigação legal.
Há uns dois anos, eu vivia numa casa grande, mas troquei por um apartamento, condizente com a vida moderna, quando não se pode pagar mais do que um empregado doméstico, quase sempre uma cozinheira que também lave a roupa. Mas, na casa, mesmo mais ou menos ampla, sempre achei interessante ler no banheiro. Ali, ninguém era perturbado, o que não me surgiu foi a idéia de fazer uma bibliotequinha dentro. E aqui, no apartamento, propus seriamente a biblioteca. Depois da instalação de um ventilador, iniciativa da mulher, em cada banheiro, minha proposta tinha muito a ver. Ela riu como que aprovando. Não sei se minha proposta vai ser executada. No banheiro, eu posso ler meus poetas Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Castro Alves e até Camões, quem sabe, “Os Lusíadas”. Por falar nesse imenso poema que fez a nossa língua firmar-se verdadeiramente como língua de civilização, podemos dizer que ele traz uma sabedoria imensa em suas páginas, e só no silêncio do banheiro é que poderíamos interpretá-lo em profundidade. No banheiro, nada deve ter a nos atormentar: rádio, celular e de outras maquininhas de mão cujos nomes não sei. Vou dizer apenas uma, como já ouvi: “ipade”. Mas é escrito “ipode”. E pode? No banheiro, não. Contracultura. Descartável. O que é salvo num segundo, no seguinte já é deletado... Cultura não se descarta: conserva, cultua. E a gente pode ficar tranqüilo que guardará por muito tempo, incorporado, o que leu, sentiu e sonhou para própria vida. Sim, porque no banheiro se pode até sonhar com emprego, namorada, divulgação de algo interessante e de interesse para a riqueza cultural da pátria. Há melhor sabedoria do que ter aprendido a viver bem? Pela cultura se aprende a viver bem. Não pelos livros de auto-ajuda, mas se possível por todos os livros de alta ajuda: romances, contos, novelas, história do país e do mundo, etc. O exemplo da leitura, no banheiro, deve ser repassado às crianças, lugar principal para começar a educação delas: Não jogar papel servido no chão (pra isto, lá deve ter um cesto), dar descarga depois de servir-se, e, enquanto se serve, ler toda a boa literatura infantil, de Monteiro Lobato a Cecília Meireles, chegando, certamente, até os mais novos escritores – que são muitos.
Daqui a pouco, como sugeriu humoristicamente Rubem Alves, o papel higiênico deve ser todo ele impresso com pensamentos dos melhores pensadores e poetas, de Sócrates a Jesus Cristo, de Neruda a Hermann Hesse, de Adélia Prado a Mário Quintana e Manoel de Barros. Do último, ele citou um verso bem a propósito deste tema e crônica, com o qual quero terminar: “Também as latrinas desprezadas que só servem para ter grilos dentro – elas podem um dia milagrar violetas”.
______________________
(Publicado no jornal O Dia, Teresina, 03.11.2012)
POR QUE ESTOU TRISTE?
de Francisco Miguel de Moura
p/Mecia e Mecinha
Hoje estou triste por sua tristeza
Por seu íntimo magoado
Sem poder andar no presente
Sem pensamentos no futuro
E as dores do passado.
Estou triste por mim e por você
E por Mecinha.
Mas amanhã outro dia se levantará
Tudo passa, novos ventos
Novas águas.
O banho perfuma e a luz descerá
Sobre nós
Porque só o AMOR perdura
Entre nossas diferenças
Só o espelho mostra a bem-querença
O bem amar.
Estou triste por você
Minha amada,
Mas tenho certeza
Que esta tristeza
Nos fortalece a alma.
E a tranquilidade voltará.
Teresina, 1º de janeiro de 2004
_______________________
P. S. *Francisco Miguel de Moura, poeta
brasileiro, mora em Teresina. Este é um poema de
circunstância, onde autor se esmera em ficar mais próximo da verdade causal que
do sonho.
SINÔNIMO DE LITERATURA
FRANCISCO MIGUEL DE MOURA – SINÔNIMO DE LITERATURA
Gilson Chagas, escritor e professor universitário em Brasília-DF
Em 1973, a publicação de meu primeiro livro me propiciava, entre outras alegrias, a chance de conhecer, em pessoa, alguns dos expoentes da imprensa e letras do meu estado natal, o Piauí. Com o encantamento do quase adolescente que se vê diante de seus mitos, pude, enfim, entrevistar-me, num plano favorável, com Carlos Said – o legendário “magro de aço” - que se tornara padrinho e divulgador de minhas colaborações ao seu programa “Poesias do Piauí”, na “Rádio Pioneira de Teresina”. Inestimável apoio recebi de Herculano Moraes, já poeta de renome e secretário de redação do jornal “O Estado”, concorrente de “O Dia” na liderança jornalística regional. Encontrei generosa acolhida em A. Tito Filho, ícone da cultura, emérito incentivador dos autores iniciantes e eterno presidente da Academia Piauiense de Letras. Conservo, ainda indeléveis, preciosas lições de Fontes Ibiapina, em nosso encontro de apresentação, na casa de seu irmão Pebinha, na cidade de Picos. Daquela primeira conversa que, ao lado do hoje destacado jurista e poeta Ozildo Barros, tive com o notável escritor, pincei a enfática afirmativa que ele ali fizera sobre Francisco Miguel de Moura. Este, a quem eu conhecia de Santo Antônio Lisboa e, à época, já com três livros na praça, era nome emergente na literatura do estado. Dentro de um contexto mais amplo, disse-nos Fontes Ibiapina, sem reserva: - “O livro de Chico Miguel, “Linguagem e Comunicação em O.G. Rego de Carvalho”, é tão bom quanto a própria obra por ele analisada”.
“(...) Notei ainda que as pessoas mais
sábias nem sempre têm o que comer e que as mais inteligentes nem sempre
ficam ricas. Notei também que as pessoas mais capazes nem sempre
alcançam altas posições. Tudo depende da sorte e da ocasião” (Ec 9.11b).
Gilson Chagas, escritor e professor universitário em Brasília-DF
Em 1973, a publicação de meu primeiro livro me propiciava, entre outras alegrias, a chance de conhecer, em pessoa, alguns dos expoentes da imprensa e letras do meu estado natal, o Piauí. Com o encantamento do quase adolescente que se vê diante de seus mitos, pude, enfim, entrevistar-me, num plano favorável, com Carlos Said – o legendário “magro de aço” - que se tornara padrinho e divulgador de minhas colaborações ao seu programa “Poesias do Piauí”, na “Rádio Pioneira de Teresina”. Inestimável apoio recebi de Herculano Moraes, já poeta de renome e secretário de redação do jornal “O Estado”, concorrente de “O Dia” na liderança jornalística regional. Encontrei generosa acolhida em A. Tito Filho, ícone da cultura, emérito incentivador dos autores iniciantes e eterno presidente da Academia Piauiense de Letras. Conservo, ainda indeléveis, preciosas lições de Fontes Ibiapina, em nosso encontro de apresentação, na casa de seu irmão Pebinha, na cidade de Picos. Daquela primeira conversa que, ao lado do hoje destacado jurista e poeta Ozildo Barros, tive com o notável escritor, pincei a enfática afirmativa que ele ali fizera sobre Francisco Miguel de Moura. Este, a quem eu conhecia de Santo Antônio Lisboa e, à época, já com três livros na praça, era nome emergente na literatura do estado. Dentro de um contexto mais amplo, disse-nos Fontes Ibiapina, sem reserva: - “O livro de Chico Miguel, “Linguagem e Comunicação em O.G. Rego de Carvalho”, é tão bom quanto a própria obra por ele analisada”.
O veredicto de Fontes – doutor da lei e das letras - era apenas um
minirretrato de uma carreira em começo - alvissareiro por excelência. No
curso destas décadas subsequentes, a obra de Chico Miguel expandiu-se e
aperfeiçoou-se. Cresceu em número e profundidade; abriu-se para
variados gêneros; diversificou-se. Lançou ele até aqui (2012) 34
livros: 16 de poesias 4 romances, 3 volumes de contos, 2 volumes de
crônicas, 7 de crítica ou história literária, 1 biografia, 1 memorial,
sem contar opúsculos de crítica, depoimento e discursos. Além destes, há
milhares de artigos espalhados por jornais e revistas do Brasil e do
exterior. Como diria Zé da Luz, o poeta do absurdo, ele está na “Oropa,
França e Brasil”.
Pelo esmero e densidade dos textos em prosa ou verso e de sua militância
quase religiosa em favor da literatura, tem sido fartamente estudado e
saudado pela crítica qualificada; lido e aplaudido pelos núcleos seletos
aonde sua criação tem conseguido chegar Tornou-se, enfim, nesses anos,
referencial e fonte para pesquisas, dentro e fora do Piauí. É também
analista e prefaciador concorrido por autores novos e veteranos
Infelizmente, contudo, por fatores abstratos - cuja existência e efeitos
o bicho-homem - admita ou conteste - não pode controlar – a obra de
Chico Miguel não tem recebido tratamento justo do grande mercado
editorial brasileiro, quiçá, internacional. Juntam-se, por certo,
a esses “fatores incontroláveis”algumas causas visíveis, como os
históricos estigmas que, no curso dos séculos, operam e perduram contra
as regiões e unidades federativas de menor expressão socioeconômica, que
“a roda dos escarnecedores” (des)classifica como “longe demais das
capitais”. Esses crônicos preconceitos, absurdos mas palpáveis - por um
sistema perverso de transferência, acabam obscurecendo a arte produzida
em estados como o nosso e limitam os horizontes dos talentos que, pelos
vários motivos, neles permanecem. Raras foram até aqui as exceções que
conseguiram “escapar” a esse cerco.
O fato é que, embora muito bem difundido nos domínios regionais, o nome
de Chico Miguel, se não é exatamente inédito no restante do país – posto
ter o respeito de grupos específicos- ainda não alcançou os grandes
contingentes que consomem cultura além de suas habituais fronteiras.
Precisa ser (urgentemente) “descoberto”pelas editoras ditas “top”, para
ser “apresentado” à grande massa. Pois no segmento editorial que reina
no mercado imperam alguns enigmas e paradoxos. Exemplo: embora o livro
constitua a “matéria-prima” dessas empresas, a qualidade literária da
obra não garante sua seleção. E – pasme-se! – às vezes, atrapalha. Há
mais critérios e interesses entre o teto e o piso das engrenagens
humanas do que supõe nossa vã filosofia. E esses descompassos têm gerado
alguns mostrengos sociais. Exemplo disso é o JUQUINHA ASS (bumbum)
MUSIC, santo do pau oco que vem “surfando numa onda”, arrasta multidões,
fez escola e fortuna, virou celebridade. Enquanto isso, o genial Zé da
Silva, que atravessou a vida real “num rabo de foguete”, deixou
toneladas de grande ficção, mas nunca teve, nem terá um grama de
reconhecimento. Melhor “sorte”mereceram João Sebastião e Vicente. Um
músico, outro artista plástico. Ambos ouviram sonoros muxoxos dos
contemporâneos, tocaram em brancas nuvens suas vidas quadradas, mas
acabaram “consagrados” na posteridade.
Cabe, por fim, instar o empresariado do livro a abrir uma página de seu
catálogo para autores como Francisco Miguel de Moura, escritor de nome
simples, que é sinônimo de literatura no Piauí desde 1966. Este, o ano
de “AREIAS”, sua poesia de estreia. A bibliografia de Chico, criada em
padrões de excelência, teve, até aqui, seu potencial mercadológico
subutilizado em edições independentes e pequenas tiragens de programas
governamentais. Ela e ele aguardam apenas um “banho” de editora,
distribuição e mídia, para ocuparem, afinal, o patamar literário que
lhes é de direito.
Os leitores torcemos para que essa injustiça - que já está perpetrada –
não se perpetue. E, “para o bem de todos e felicidade geral da nação”,
que essa obra singular possa ter suas fronteiras rompidas, para
tornar-se, afinal, legitimamente possuída e plenamente desfrutada por
seus donos verdadeiros, a massa leitora desta geração.
À MINHA VILA
Francisco Miguel de Moura
JENIPAPEIRO
JENIPAPEIRO
Entre dois chapadões – terra bendita,
De alma mais pura do que a branca areia,
Terra que ouviu de minha mãe contrita,
Rezas a Deus, logo depois da ceia...
És tão humilde e pequenina aldeia
Que, pela vida, em nosso peito habita.
Qual semente daquele que semeia,
É semente do amor – terra bendita.
Tens sol, calor... E é frio o teu luar.
É gigantesca a sombra do juazeiro,
Na carnaúba – o vento a farfalhar.
Vê-se, em roda à capela, o casario
Como a adorá-la... Ó meu Jenipapeiro!...
De frente o vale, o lajeado, o rio.
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